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Alega-se que o dote entregue à família representa uma forma de agradecimento pelos cuidados e instrução dada à mulher lobolada, mas também é uma forma de compensar a ausência da filha que estará de mudança para a casa do marido (virilocalidade). Relatos indicam que, inicialmente, o dote oferecido era algo simples e modesto. Com andar de tempo, o dote foi ganhando um valor acrescido e cada vez mais exigente como, por exemplo, a oferta de cabeças de gado. O lobolo continua sendo praticado e constitui uma das principais características das sociedades patrilineares tal como no passado; e detém ainda o mesmo reconhecimento e estima.
Mas, o valor do dote já não é mais algo modesto, exceptuando alguns casos. Exige-se, hoje, quantias relativamente superiores e dotes diferenciados, como é o caso da compra de vestuários para os familiares da mulher lobolada, vinho, cerveja e refrigerantes. O lobolo tem constituído actualmente motivo de grande controversa devido ao preço do dote cobrado pela família da mulher, o que induz à ideia de este acto constituir uma forma de negócio. O alto valor ora exigido, a infinita lista de pedidos entregue ao homem de tudo quanto será necessário para tornar a cerimónia possível e nalguns casos incluindo, conforme referido, pedidos de cabeças de gado bovino suscita a ideia de este acto ser uma mera troca de favores, na qual os pais entregam a filha ao homem em benefício dos bens.
Devido ao custo de vida actual, jovens que pretendem formalizar a sua união enfrentam enormes dificuldades quando confrontados com o preço do dote requerido pela família da noiva. O valor do dote certamente que varia de família para família, existindo aquelas que chegam a cobrar verbas correspondente a valores mais baixos até aos improváveis de se imaginar 30, 40 mil meticais. Ai de quem achar que 50 mil meticais é um valor exacerbado de se ser exigido como dote ou que a cerimónia é desenvolvida no seio de famílias pobres ou pessoas ordinárias. Engane-se quem assim pensar. O saudoso presidente sul-africano, Nelson Mandela, por exemplo, ofertou 55 cabeças de gado como lobolo para a família de Graça Machel. O lobolo constitui igualmente forte tradição em países como a África do Sul e a Suazilândia.
Actualmente, nem todos concordam com o lobolo e isso não se deve unicamente aos altos preços exigidos como dote, que nalgum momento chegam a constituir embaraço principalmente para os jovens masculinos que acham que o valor cobrado podia muito bem satisfazer algumas necessidades cruciais para quem está iniciando a vida como, por exemplo, a compra de um terreno para o casal. A sensação de se estar a pagar um preço para ter uma esposa incomoda alguns homens, assim como existem mulheres que se sentem incomodadas pela sensação de estarem a ser compradas. Existem jovens que, obviamente, não fazem caso disso e muito menos entendem o acto nesse sentido. Ainda em relação ao preço cobrado como dote, este pode variar consoante variáveis como virgindade, beleza, integridade, habilidade para lidar com trabalhos domésticos e grau de instrução. Lobolar mulher estudada pode custar caro e quanto maior for o nível académico ou prestígio da área na qual for formada o custo do dote pode incrementar.
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Sem necessariamente diabolizar o lobolo, há que reconhecer que esta prática nalgum momento pode provocar impactos negativos na sociedade advindos da sua negociação tais como: (1) a poligamia, uma vez que o homem se sente no direito de ter uma segunda ou terceira mulher pelo facto de entender que comprou a actual esposa; (2) violência doméstica e (3) apropriação da mulher, o homem julga que pode tratar a esposa como bem entender, pois o dote por ele pago à família da mulher conferiu-lhe o direito de se apoderar da esposa.
Existirá algo que necessite ser mudado na cerimónia do lobolo?
Evitar que se oferte altos valores como dote à família da mulher seria ideal para jovens que estão iniciando vida a dois?
Haveria algum jeito de se padronizar o custo do lobolo?
Actualmente, o lobolo continua sendo tradição ou virou negócio?
Estás de parabéns pelo texto. Gostaria de tentar responder as últimas questões colocadas neste texto:
ResponderEliminar1.Existirá algo que necessite ser mudado na cerimónia do lobolo?
Dependerá de família para família a forma de celebração do lobolo. Para se requerer mudança tinha que se encontrar algum(s) aspecto(s) em comum considerado negativo em cerimónias de várias famílias.
2.Evitar que se oferte altos valores como dote à família da mulher seria ideal para jovens que estão iniciando vida a dois?
Também não concordo com a exigência de altos valores no lobolo mas penso que é algo que pode ser muito bem negociado com a família da noiva.
3.Haveria algum jeito de se padronizar o custo do lobolo?
Sinceramente não. Considerando que cada um tem a sua condição de vida e na cobrança do lobolo a uma família a condição de vida do jovem e da família são avaliados.Padronizar o custo do lobolo pode favorecer a uns e desfavorecer a outros e mesmo sendo legalizada essa padronização, nós como seres sociais encontramos sempre uma alternativa para contornar a lei.
4.Actualmente, o lobolo continua sendo tradição ou virou negócio?
O lobolo é uma tradição que está sendo negociada em benefício financeiro e pelo prestígio da família da noiva.
JJ
Obrigado pela contribuição, JJ. Volte mais vezes.
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