quarta-feira, 1 de junho de 2016

Reprovações no Ensino Secundário Geral: O Que Terá falhado?

Imagem ilustrativa
Uma das edições do Jornal O País publicado no final do ano passado (2015) trouxe uma notícia intitulada “Mais de 75 por cento dos alunos do ensino secundário-geral vão repetir as classes”. Enquanto lia esta matéria, recordei-me de algumas missivas por mim escritas há poucos anos, através das quais critiquei de forma expressa e atribuí ao sistema de passagem semi-automática a culpa por esta ser a mentora dos altos níveis de reprovações registados na época.
Penso que hoje estamos pagando um preço elevado devido a decisões precipitadas cometidas no passado. Confesso que nunca vi com bons olhos a adopção do sistema de passagem automática pelo Ministério da Educação. A razão da minha objecção é clara - este modelo a prior permite que os alunos transitem de uma classe para outra sem domínios das matérias leccionadas pelos professores.  Durante algum tempo, o programa curricular do ensino primário incutiu subliminarmente na mente dos alunos a ideia de que estes podiam transitar de uma classe para outra sem quem envidassem grande esforço, e assim sucedeu por um determinado período. Talvez estivéssemos preocupados com cifras, pretendíamos ter um elevado número de graduados para responder, quiçá, aos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio.
Mas, atribuir a culpa ao modelo de passagem semi-automática seria uma grande injustiça da minha parte. Pois, há quem concordou que o país adoptasse este sistema. Julgo que os anteriores dirigentes que passaram pelo sector da educação não tiveram a coragem suficiente de dizer – “não” a este modelo. Não se mostraram abertos e compreensíveis para perceberem que a médio e longo prazos colheríamos maus resultados. 
A implementação do sistema de passagem semi-automática nunca foi encarada de forma passiva. Houve sempre questionamentos sobre a sua eficácia e eficiência, criticas, sugestões e advertências feitas pela sociedade civil a fim de que este modelo não pudesse ser executado. De forma particular, as criticas e indagações ganharam eco por parte dos encarregados de educação que, preocupados com a educação dos seus educandos, mostraram-se receosos quanto ao modelo.    
Não obstante esta onde de cepticismo, foi permitido que os educandos transitassem de uma classe para outra sem domínio da leitura, escrita, sem saber contar e realizar as mais básicas operações matemáticas. Lembremo-nos que os alunos ontem abrangidos pelo modelo de passagem semi-automática são os mesmos que actualmente frequentam a 10ª e 12ª classes e, quando submetidos aos exames finais, foram em grande número reprovados.
É fácil atribuir a culpa aos alunos alegadamente porque eles não se têm dedicado aos estudos, sim concordo que presentemente os nossos educandos muito pouco se têm esforçado; mas por vezes nos esquecemos de olhar para o passado e analisar e o que terá falhado no nosso sistema da educação. Não é a primeira vez que os alunos são submetidos aos exames no país, isso vem acontecendo há muito tempo. Por que, hoje, todavia, registamos o recorde de 75 por cento de alunos reprovados no ensino secundário-geral?
Será que os alunos de ontem são mais inteligentes e empenhados que os de hoje? Não, o que sucede é que os alunos de ontem estavam inseridos num sistema de ensino sério e desafiador, no qual desde muito cedo faziam ditados, elaboravam redacções, aprendiam a tabuada, entre outras actividades que faziam com que eles desenvolvem-se intelectualmente. Aqui, só transitava aquele que estivesse preparado, quem apresentasse dificuldades era dado a oportunidade de repetir a classe no ano seguinte.
Foi neste sistema de ensino que eu e alguns jovens contemporâneos aprendemos a tabuada, a escrever, a ler, a contar histórias, etc. Hoje, certas reformas feitas no sector da educação não produzem feitos nenhum porque não têm como foco levar o aluno a desenvolver intelectualmente, mas sim estas têm como objectivo facilitar a transição dos alunos de um nível para o outro.
A preocupação do sector da educação não pode ser, por exemplo, de realizar reformas que preconizem abolição de exames nesta ou naquela classe, deixar que o professor goze da autonomia de decidir que aluno deve ou não transitar, mas sim de criar formas criativas de levar a que o educando aprenda a escrever, a ler, a dominar a tabuada e ganhe gosto sobretudo pelos estudos. Se assim procedermos, poderemos evitar os altos níveis de reprovação como os que se registaram no presente ano lectivo.

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