sábado, 2 de julho de 2016

Melhor do Que Branco, Só Dinheiro

Foto: Google
A cor branca é uma cor muito apreciada e de grande significado em todo o mundo. O branco significa paz, pureza, bondade e tem sido associado à inocência e virgindade. As noivas quando se casam geralmente se vestem todas de branco. Nas cerimónias de graduação, ou pelo menos naquele em que participei, os estudantes de Medicina traziam a fita branca nas suas batinas, que significa pureza espiritual.
No último dia do ano as pessoas costumam se vestir de branco, pois acreditam que esta cor lhes dará sorte no ano vindouro. O branco reveste-se de grande valor quando comparado com as outras cores. Por exemplo, o açúcar branco é mais caro que o castanho, as mulheres negras têm envidado grande esforço de forma a clarearem a pele, os indivíduos de raça branca são alegadamente considerados superiores em relação aos negros.
Uma vez acompanhei tristemente na televisão duas bonecas de igual feitio a serem vendidas a preço diferenciado só porque uma era de cor branca e outra negra e, obviamente, a boneca com cor clara estava relativamente mais cara do que a com cor escura. Enfim, branco é mesmo branco!
Falando em branco, um dia a minha tia mandou-me depositar um grande valor monetário num dos nossos bancos. Para despistar a atenção dos ladrões, vesti-me de maneira desprezível, sapatilhas brancas em deplorável estado, calções azuis, sujos e furados, camisete amarelo e um boné vermelho. Parecia um verdadeiro espantalho.
Enquanto me dirigia ao banco que me fora recomendado pela minha tia, decidi entrar numa loja onde se vendia quase um pouco de tudo. Electrodomésticos, mobílias, loiças e produtos alimentícios. Entrei para apreciar. Nalgum momento, procurei um dos funcionários para que me pudesse dar detalhes sobre um televisor plasma que me despertara interesse. Percebi-me facilmente que ninguém me ligava atenção, devido à maneira como eu estava vestido.
Os funcionários daquele estabelecimento comercial docilmente atendiam os outros clientes, por sinal de raça branca, com sorrisos cruzando os seus rostos. À mim, fingiam não ver. Os clientes de raça branca ofuscavam-me fazendo com que eu parecesse invisível diante deles.
– Senhores, este telemóvel é de boa qualidade. Aquele televisor possui uma imagem 3D. Este congelador é de última geração. Também temos iPhones 5. – os funcionários apresentavam os produtos aos indivíduos de raça branca, os quais eram delicadamente chamados de “Doutores”. Se eram realmente “Doutores”, não sei.
Dirigi-me até um certo canto onde pudesse ser melhor visto por todos os funcionários. Tirei da pasta onde eu guardara o valor que minha tia me pedira para fazer depósito, uma boa quantidade de notas, 50 mil meticais no seu todo. Lambi as pontas dos dedos polegares e comecei a contar as notas verdes.
O gerente da loja, por acaso também de raça branca, notando que eu segurava um bom valor em mão e desconfiado que na minha pasta existisse mais dinheiro, beliscou um dos funcionário para que de imediato me fosse dar atenção. – Procure saber o que aquele cliente aí quer. – cochichou no ouvido do seu subordinado.
O jovem se achegou a mim. – Senhor, precisa de comprar algo? – perguntou.
– Sim, desejo. Na verdade, já escolhi o que preciso comprar. – repliquei.
– Posso me dirigir à caixa?
– Fique à vontade. – disse-me o funcionário.
Com os olhos arregalados, os clientes e funcionários me olharam admirados.
O gerente dirigiu-se pessoalmente à caixa para me atender. Já defronte a caixa, todos olhavam atentamente para mim procurando adivinhar o que eu fosse comprar.
– Eu acho que ele vai comprar o TV Samsung Curve. Aquele tem cara de quem quer um Galaxy S6 edge. Quanto a mim, o gajo vai comprar o mais recente iPad. – prognosticavam os funcionários.
Meti mão no bolso. Vasculhei. Remexi e tirei de lá uma moeda de um metical quase enferrujada. Pedi o gerente que me desse um cadbury que estava num dos frascos ali na zona da caixa. – Vai precisar de o quê mais? – perguntou-me.
– Sou preciso de cadbury. – respondi com a convicção.
De que forma compraria algo valioso se o dinheiro que eu trazia não era meu.
Todos me olharam estranhamente.
Fitei os olhos no gerente e vociferei bem na cara dele: – Ah, melhor do que branco, só dinheiro!
Desembrulhei o cadbury, pus na boca, e fui-me embora. 

MUSSA CHALEQUE

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