sábado, 6 de maio de 2017

Alucinação Amorosa

Foto: Google
Vagueava pela cidade, exposto ao forte sol que quase me derretia como se de um alcatrão eu me tratasse. Fazia muito calor, os termômetros registavam 45 graus Celsius. O que eu mais queria naquele momento era achar um lugar para me assentar, repousar e refugiar-me do escaldante sol.
Decidi, por isso, ir ao jardim Tunduru, localizado na zona baixa da nossa cidade capital. Chegado ali, inspirei o ar puro enquanto uma suave brisa refrescava-me a alma. Ocupei um dos assentos e fui contemplando as lindas flores, morcegos grudados nas árvores, tudo ao som meigo de pássaros que de ramo-a-ramo saltitavam alegremente.
Tirei da pasta um livro que trazia e embalei-me no mundo do espiritismo, feitiçaria, curandeirismo retratado pela Paulina Chiziane enquanto lia "O Sétimo Juramento". Do nada, pousei o livro. Vagarosamente fechei os olhos e uma paz interior invadiu o meu ser.
Mergulhei no subconsciente. Num só instante, vi uma moça linda trajada de branco caminhando estilosamente em minha direcção. Imóvel olhei fixo para cada balançar do seu corpo ondulante e escultural. - Uau! Que linda mulher. - Exclamei admirado face a tamanha beldade.
Ela se parecia com uma daquelas personagens de conto de fadas. Sua beleza era encantadora, pele macia, cabelos finos, lindos e longos que, ao soprar da brisa, voavam desfazendo-se do penteado. Delicadamente passava a mão pelo rosto ajeitando as madeixas.
Tendo chegado perto de mim, sentou-se ao meu lado e lançou-me um nobre sorriso. Perguntei-lhe o nome e ela gentilmente respondeu: - Ângela.
Esqueci-me do mundo a volta. Procurei saber mais acerca dela, seu passatempo, moradia, profissão, família, enfim. Clima romântico pairava no ar. "Deve ser ela a mulher da minha vida, somos compatíveis em tudo, partilhamos dos mesmos sonhos, crenças, defendemos os mesmos ideais, só pode ser ela", pensei convicto.
Pedi a Ângela um beijo e aceitou. Confesso, aquele seria o meu primeiro beijo, a minha estreia. Tímido, aproximei-me lentamente até bem perto dela sorvendo o agradável perfume que do seu vestido exalava, fechei os olhos enquanto sentia a sua ofegante respiração. Vagarosamente, repeti o nome dela já perto dos lindos lábios e pronto para o mergulho.
De repente, senti fortes bofetadas nas coxas, três em sequência. Despertei e notei que já estava tarde.
- Ângela. - Quem é? - Inquiriu-me uma agente da polícia camarária posicionada em minha frente e que se encontrava vigilando o jardim.
- Dorminhoco, tu não sabes que a esta hora é proibido frequentar o jardim. Sai, sai daqui! 
- Você é a Ângela? - Questionei tentando dar uma lógica a minha alucinação.
- Que Ângela? Não vês que já é noite, que fazes ainda aqui. Rua....!
Desiludido, retirei-me do local às pressas.
- Não acredito, era tudo um sonho. - Gritei em desespero.

MUSSA CHALEQUE

Sem comentários:

Enviar um comentário