domingo, 28 de agosto de 2016

Afinal Não É Académico, É Cobrador!

Foto: Google
Te aproximaste de nós já todo empolgado com a conversa, embora não estivesses contextualizado acerca do assunto que fazia com que vibrássemos e soltássemos gargalhadas no fim de cada intervenção. Quando, tecendo opinião sobre um dos temas, colocaste fim ao jeito de abordar assuntos segundo as regras de bar, em que ganha razão aquele que mais profere palavras, ainda que, o que se diz não constitui verdade.
Confesso, particularmente, que fiquei impressionado com a maneira que comentavas os assuntos relacionados à política, economia, sociedade, cultura, entre outros. O teu comentário era sempre quase merecedor de aplauso, se bem que cada um de nós que te escutava não se atrevia a o fazer. Apenas pairavam algumas questões nas nossas mentes relativas à tua identidade ou ocupação: – Que curso ele está a frequentar? Ou que curso frequentou? Onde? Será que é docente universitário?      
Monopolizavas toda a conversa porque tínhamos que pensar e repensar antes que emitíssemos qualquer tipo de opinião. Para além, do cuidado que tínhamos, de fazer uma revisão linguística dos nossos pensamentos antes que os mesmos fossem exteriorizados. Realmente era necessário tomar muito cuidado, já que a impressão que nos era transmitido era de que se tratava de um verdadeiro académico a pessoas com quem conversamos.
O teu rico, diversificado e difícil vocabulário eliminava as desconfianças que ainda ousavam em emergir nos nossos intelectos, de que estávamos diante de um indivíduo doptado de um vasto conhecimento. Até que, decidi de forma inconveniente deixar transparecer que frequentava a universidade, se bem que isso fosse absolutamente desnecessário, tendo em conta o tipo de assunto que eu comentava. Não tardou, os outros quatro companheiros fizeram o mesmo, com a pura intenção de mostrar que, assim como eu, não se tratavam de pessoas quaisquer, mas sim de universitários.          
Continuaste comentando os assuntos inteligentemente, sem sequer mencionar nada relacionado à tua formação ou ocupação. O nosso esforço de haver deixado transparecer de que éramos universitários foi em vão, pois ao longo da conversa não conseguimos abordar nenhum dos temas de que debatíamos com sucesso. Não conseguimos suplantar o teu rico conhecimento, o que, cá entre nós, era a nossa intenção e assim tencionávamos para fazer valer o nosso nível académico.         
Não sei como surgiu a nossa conversa, lembro-me, porém, que a mesma chegou ao fim quando um carro de marca Toyota Hiace se aproximou perto de nós, buzinando. – Josito! – gritou o motorista chamando por ti, protagonista da nossa conversa, detentor de muita admiração e apreço durante as cinco horas da intensa e longa conversa que tivemos naquela manhã de sexta-feira.          
Estranhámos o nome Josito, pois não nos parecia ser digno de um indivíduo inteligente. Mas logo ficámos certos de que o motorista realmente chamava por ti quando correspondeste erguendo o braço. –Vamos trabalhar, preciso de ti para cobrar os passageiros – afirmou o motorista.         
Te despediste de nós educadamente. Quando, ainda tentando acreditar que não se tratavas de nenhum académico, mas sim de um cobrador, questionei-te inconvenientemente acerca da tua ocupação, pois todas as evidências mostravam que te tratavas de um cobrador. – O que fazes mesmo? A tua resposta não tardou: – sou cobrador – respondeste dirigindo-te ao MINI-BUS.          
Atónicos, exclamamos de forma copiosa, – afinal não é académico, é cobrador!

MUSSA CHALEQUE

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